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Ciranda Musical

Neste espaço, compartilhamos a escuta e interpretação simbólica desta arte que nos toca em todos os sentidos!

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ATRÁS DA PORTA Intérprete: Elis Regina Composição: Chico Buarque "Quando olhaste bem nos olhos meus E o teu olhar era de adeus Juro que não acreditei Eu te estranhei, me debrucei Sobre teu corpo e duvidei E me arrastei nos teus cabelos No teu peito, teu pijama Nos teus pés, ao pé da cama Sem carinho sem coberta No tapete atrás da porta Reclamei baixinho Dei pra maldizer o nosso lar Pra sujar teu nome, te humilhar E me vingar a qualquer preço Te adorando pelo avesso Pra mostrar que ainda sou tua Até provar que ainda sou tua" O divórcio na alma...que dor insuportável! A separação do amor me faz pensar... por que motivo? Nos perdemos do amado encontro com o outro, jurado de amor para sempre! Confinados no desespero vazio da alma que nos reclama envolvimento. Mas envolvimento do que? Para quem? Esse divórcio que chega frio através de muitos vieses. Traição de quem? Será que traímos a Alma quando pensamos o “para sempre”, é o mesmo dos contos de fadas? Será que trair seu desejo é um pecado? Mas se o desejo for embora de mim, o que haverá em mim? Quantas de nós não choramos o amor partido e não partimos com esse amor? A psicologia de Jung, tão atrevida para seu tempo, nos prova que essas questões, quando levadas para uma reflexão mais íntima, chegamos à pergunta “Quem somos nós?” E descobrimos em seus relatos teóricos um criativo desconforto da ausência de consciência de nós mesmos, e talvez seja por isso, que a tristeza desmedida nos invada a Alma ao percebermos que quem partiu nunca existiu. Sheila Rosana de Carvalho Pereira. Beijo e até!

SHIMBALAIÊ (MARIA GADÚ) Maria Gadú compôs Shimbalaiê quando criança - aos 10 anos – e com esta informação se evidencia a profunda sensibilidade desta compositora, que traz o termo “Shimbalaiê” como palavra sem tradução, uma criação de sua imaginação infantil. Que criança mais ligada à Natureza é ela! Muita delicadeza na alma para, tão jovem, trazer um olhar tão profundo para sua apreciação do pôr do sol. Como toda arte, somos afetados e criamos nossas próprias impressões a partir de nossos afetos. Trago uma interpretação simbólica – dentro de tantas possíveis - desta música que considero tão suave, poética e delicada! "Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar" “Shimbalaiê” pode ser sentida como uma saudação à Natureza, uma reverência de alegria pelo encontro com o Sagrado (em nós) que Ela proporciona. O sol beijando o mar, toda vez que ele vai repousar: que descrição mais poética do pôr do sol! Sol: aquele que ilumina o céu: a consciência; o grande Espírito; o agente ativo; a energia vital. Mar: lugar de transformação, movimento, fertilidade e profundidade: o inconsciente. Na descrição poética da compositora o beijo entre sol e mar traz uma representação simbólica de um encontro favorável, calmo, permitido entre essas duas forças da Natureza. Que alegria (Shimbalaiê) de encontro entre consciente e inconsciente! O repouso do sol como este descanso que a consciência precisa para que a noite (o inconsciente) também se faça presente. O pôr do sol como o mediador desta “troca de turno” de um ciclo que se renova todos os dias. Pôr do Sol: morte; encerramento de ciclo; renovação. "Natureza, deusa do viver A beleza pura do nascer Uma flor brilhando à luz do sol Pescador entre o mar e o anzol" Natureza: criação, vida, renovação – a pureza do Belo de tudo que Ela cria e manifesta. Flor: A criação delicada; a passividade; a infância; a harmonia; relação com a espiritualidade. Pescador: aquele que está aberto ao encontro com o inconsciente; aquele que busca, em suas profundezas, seus tesouros. Anzol: instrumento concreto que possibilita a pesca em águas profundas; é o instrumento que capta e traz à tona os conteúdos submergidos. Uma flor brilhando à luz do sol, o pescador entre o mar e o anzol pode ser olhado como a entrega daquele que busca - entrega passiva e confiante, de uma ingenuidade pueril e espiritual - ao grande Espírito que rege com sua clareza e potência. O pescador que está aberto a buscar, em suas profundezas, possibilidades ocultas na consciência racional, mas vívidas no rico mar da inconsciência - incluindo o inconsciente coletivo. "Pensamento tão livre quanto o céu Imagino um barco de papel Indo embora pra não mais voltar Tendo como guia Iemanjá" Uma vez que há encontro e abertura positivas entre consciente e inconsciente, estabelece-se uma relação de liberdade na racionalidade: a razão pode se manifestar de forma criativa, com espaço infinito para explorar, sem limitação, sem cobranças: sua guia é a Grande Mãe das Águas – este feminino forte, sábio, protetor e amoroso. "Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar" "Quanto tempo leva pra aprender Que uma flor tem vida ao nascer Essa flor brilhando à luz do sol Pescador entre o mar e o anzol" Quanto tempo o ser humano leva para compreender que é um Ser pertencente à Natureza e que não está alheio a ela? Que somos flores pertencentes a um jardim divino? E que ao reconhecermos essa Natureza, como uma realidade que também se faz presente em nós e compõe nossa intimidade, criamos condições de fazer mergulhos profundos em nossa Alma, trazendo à superfície criações valiosas para nosso desenvolvimento humano? "Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar" "Ser capitã desse mundo Poder rodar sem fronteiras Viver um ano em segundos Não achar sonhos besteira" Ao possibilitar o mergulho na própria Alma – que traz à consciência os tesouros inconscientes, abre-se esta condição de autonomia, de se movimentar na vida sem limitações, viver intensamente, sem boicotes e desvalorização dos próprios desejos. Acreditar que as demandas do inconsciente (pessoal e coletivo) buscam manifestação na dimensão concreta, buscando autorrealização. "Me encantar com um livro Que fale sobre vaidade Quando mentir for preciso Poder falar a verdade" Se encantar com os conhecimentos de si, que tragam a verdade e reconhecimento do valor próprio; poder falar a verdade, se assumir, não ter necessidade de mentir; perder o medo de ser quem se É. "Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar Shimbalaiê, quando vejo o sol beijando o mar Shimbalaiê, toda vez que ele vai repousar" Esta é uma possibilidade de interpretação simbólica desta poesia linda de Maria Gadú; encanta-me sua beleza e genialidade! Uma Alma que, aos 10 anos, ainda num corpo infantil, descreveu de maneira tão simples e profunda além do movimento dinâmico da energia psíquica, a busca do Self. Até a próxima! Karina Lopes Cabral

MEU VÍCIO É VOCÊ "Meu cigarro e o perfume do mato A bebida é a água da fonte Meu desejo tem flor de laranja Jogo apenas o jogo do amor Eu não vou lhe dizer Que não tenho defeitos Mas com eles me arrumo, me acerto, me ajeito Meu problema é um segredo guardado no peito que se chama paixão Meu vício e você, meu cigarro é você, Eu te bebo, eu te fumo Meu erro maior eu aceito, eu assumo Por mais que eu não queria, eu só quero você Meu vício é você Meu dadinho, meu jogo de cartas marcadas Essa droga de sonho não vai dar em nada Vim rolando na vida e parei em você." (Intérprete: Alcione Composição: Carlos de Carvalho Colla/ Francisco Figueiredo Roque) Essa música me faz pensar nos vícios que vivemos quando estamos tentando afogar nossos desejos, paixões e amores; será que é por conta de não os ouvir com a alma? Eles nos dizem sobre nossas emoções e culminam numa projeção de amor ideal; será esta projeção de amor uma busca no outro daquilo que não percebemos em nós? Essas defesas do ego me levam a pensar o quanto evitamos nos confrontar com os desejos na alma, que faminta por reconhecimento e nos convida, continuamente, a percorrer o caminho da fonte na vida em nós. Essa travessia não é representada por águas brandas; envolve vícios, medos, angústias, desconhecimentos, ansiedades e tantas outras emoções, que com fome e sede de amar, sem saber o que, nos perdemos em “colos” nada afetivos. Na minha prática clínica ouço pessoas em situação de desespero, que questionam suas escolhas em relação a parceiros, profissões, amigos tóxicos e viciantes. Muitas das vezes, os relatos vêm carregado de muita ansiedade, sofrimento, solidão, inconsciência e pressa, que por sua vez, representa a angústia por não enxergarmos o caminho das águas na fonte, e isso nos leva a um papel passivo diante de tanto sofrimento. A pressa e a paixão que chegam arrasadoras embriagam, e quando olhamos o outro não percebemos o que estamos vendo. O amor viciado e embriagado não reconhece o desejo de ser amado, e neste caminho desesperado e apressado, não conseguimos alcançar nossos desejos e nos frustramos numa utopia por afeto. Penso que, para não sermos devorados, o caminho seja integrar e ressignificar nossas dependências afetivas. A dona Vida nos propõe caminhos e obstáculos que são inevitáveis e necessários para encontrarmos as propostas do Self, para encontramos o perfume do mato e a água da fonte. E será neste enfrentamento que o amor deverá ser reconhecido na alma do amado em mim. Sheila Rosana de Carvalho Pereira Beijos e até!

© 2024 Ciranda Analítica

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