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Ciranda das Reflexões

Este espaço traz reflexões sobre temas diversos que, em algum momento, nos tocou e quisemos compartilhar, com o intuito de provocar novas reflexões em quem se sentir afetado por elas!

MATERNAGEM E MATERNIDADE Ser mãe, num sentido mais profundo, demanda elaboração do feminino, para não padecer no paraíso das ilusões e idealizações! Há quanto tempo a Terra está negligenciada em sua essência feminina, rogando por um olhar humano acolhedor que lhe traga de volta o respiro, o colorido e a potência de sua devoção? O mundo carece de Amor! A realidade está impregnada de falsos devotos, que cultuam distorcidas belezas e distorcidos valores. Não compreendem a importância do arquétipo da mãe como atuação criativa e fértil na construção de uma maternagem coletiva. O mundo carece de Proteção! Maternagem é diferente de maternidade. Maternidade é biológica ou adotiva e define o estado de ser mãe. Maternagem é a capacidade que toda pessoa, independente de gênero, pode desenvolver para ser uma referência positiva e estabelecer um vínculo seguro com quem necessita de um bom colo para seu desenvolvimento. O mundo carece de Maternagem! Maternar envolve o reconhecimento da polaridade feminina que compõem todo Ser vivo. A humanidade está mal tratada pela ganância e ignorância dos que não reconhecem a importância do feminino em seus aspectos construtivos! Falta elaboração individual de verdadeira nutrição, proteção, conforto e cuidado, que gere abrigo e segurança para quem se aproxima - a começar por Si. Que nesta data simbólica, todas as mães arquetípicas se façam presentes e despertem, acima de tudo, o autoamor! 🙏🏻🌹❤ (Karina Lopes Cabral)

LUTO E SAUDADE No caminho do fim as perguntas são tantas. Fizemos o suficiente, ainda temos tempo para retratações? Acompanhando e vivendo esse sofrimento, me peguei pensando nos acertos de contas se o fim estiver próximo. Muitos amores, apesar de grandiosos com sua humanidade, nos deixam marcas que nem sempre temos tempo para perceber o tamanho desse buraco. Muitas vezes a emoção nos envolve e o sofrimento, dado a falta de tempo para revisitar antigas arestas, nos deixam levar pela impotência do momento. Nossos amores não são Deuses e, justamente por isso, seja doido o reconhecimento da sua humanidade e morte. Acompanhei várias pessoas e suas dores na ressignificação das arestas com seus amores que um dia na imagem de Deuses eram intocáveis. Quando percebemos sua humanização na dor do fim, a saudade do não vivido se torna insuportável. Mas será simples ressignificar a morte? Pensando na morte como um símbolo de transformação não posso desacreditar. O fim nos traz elaborações e reconhecimento de outros em nós e que, na presença do ser ideal, nem poderia ser questionado! Nada disso parece importar; a dor, a falta e a angústia nos dominam, e misturados a perda desse amor, por vezes idealizado, nos vemos diante do desafio de nossa humanidade. Sheila Rosana de Carvalho Pereira Beijo e até

A TERRA É PARA SER TOCADA Jung, em agosto de 1928, escreveu uma carta a Hermann Keyserling - escritor e filósofo alemão - analisando alguns símbolos oníricos que o alemão compartilhava com Jung em suas frequentes trocas de correspondência. Nesta carta, Jung escreve ao colega: “O relacionamento negativo com sua mãe é sempre uma afronta à natureza – é antinatural. E daí vem a alienação com referência à terra, identificação com pai, céu, luz, vento, espírito, logos. Repúdio da terra, do inferior, do escuro, do feminino. Relação negativa com o material, também com crianças. Fuga do sentimental – pessoal.” Ao ler essa interpretação, algumas associações me surgiram. Toda natureza manifestada possui um princípio de gênero onde tudo contém os elementos feminino e masculino e com o ser humano não é diferente. Cada Ser carrega seu par de opostos e o bom entrosamento deles significa, no mínimo, uma certa adequação emocional. Esta sizígia, natural e infinitamente ilustrada (p.ex.: lua/sol – yin/yang – luz/trevas – eternidade/tempo – etc.), nos acompanha, também, na imago parental. Ou seja, carregamos em nós as imagens de pai e mãe e nos relacionamos intimamente com elas, independente do desejo do Eu. Vivendo numa sociedade patriarcal, a polaridade mais destacada e valorizada é a masculina: a racionalidade, a rigidez, o controle, a ação, a certeza, polaridade esta que atua com destaque em todos os gêneros humanos. Também neste arranjo patriarcal, o feminino aparece despotencializado, submisso e sem espaço para se apresentar e a maior parte das pessoas, infelizmente, revela esse machismo estrutural. A relação precária com o princípio feminino fica escancarada e, para muitas pessoas, é difícil reconhecer que esta polaridade faz parte da natureza e da psique humana. Nas primeiras fases de nosso desenvolvimento, pai e mãe são as referências concretas deste par de opostos e a relação que temos com essas figuras (ou com a ausência delas) influencia a maneira pela qual vamos nos relacionando com o feminino/masculino dentro de nós. No arranjo patriarcal, o pai continua sendo a maior representação do masculino e a mãe do feminino. Porém, pai e mãe patriarcais pouco se integram com seu próprio feminino e atuam com a rigidez masculina; apresentam grande dificuldade em flexibilizar sentimentos, posturas, proporcionar sutileza, paciência, compreensão e escuta amorosa para as demandas, incluindo as infantis. Desta forma, a criança vai se desenvolvendo em um ambiente de excessivas regras, controles, sem condição de estruturar uma relação afetiva de boa qualidade com a própria intimidade e com as figuras parentais. Esta é uma maneira de ilustrar a fala de Jung à Keyserling, quando cita a “relação negativa com o material, também com crianças. Fuga do sentimental – pessoal.” Quando Jung traz a antinaturalidade de uma não relação com a mãe, destacando esta disposição como afrontosa, considero importante não literalizar esta fala, afinal, muitas pessoas trazem jornadas de extrema violência, em todos os sentidos, e precisam de distância das figuras parentais para que a vida possa fluir. Porém, a imago parental precisa ser trabalhada e, neste sentido, a distância não ajuda: reconhecer a relação profunda com as figuras de pai e mãe da nossa intimidade é fundamental para nosso desenvolvimento; permanecer afastado delas é de grande prejuízo. Dentro dos elementos da natureza, como bem destacou Jung, a terra é uma rica representação do feminino; é o elemento que recebe, que germina, que gesta; é dela que surgem novas criações; tem profundidade, é silenciosa, acolhe e é fecundada. A pessoa que repudia a terra, apresenta questões relevantes com a própria essência feminina. Em exemplos cotidianos, observamos tal dificuldade em pessoas que não se identificam com plantas e flores e, quando se identificam, não conseguem manter a planta viva, por inúmeros motivos; pessoas que tiram as áreas de terra de suas casas, pois dá “menos trabalho” ou aparece menos bichos; pessoas que até vão a um parque, mas quando convidadas a caminhar descalças pela grama, recusam veementemente, pois podem sujar os pés, serem picadas por algum inseto, ou pisarem em alguma sujeira. Ou seja, numa interpretação simbólica, estas pessoas apresentam uma defesa muito grande ao feminino e, provavelmente, apresentam questões significativas na relação materna. A consequência também se manifesta no corpo, que muitas vezes está dessensibilizado ao prazer e mostra dificuldades ósseas, articulares, principalmente nos joelhos e quadris. Toda rigidez esconde dores profundas da alma! Possibilitar vivências prazerosas para o corpo em experiências concretas de entrega à natureza é de grande riqueza e a terra representa um belo convite! Até a próxima! Karina Lopes Cabral

A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE PARA ANALISTAS Falar sobre a importância da análise na área da psicologia pode parecer um assunto básico e desgastado, afinal é uma premissa de qualquer formação que se preze. No entanto, a proposta desta reflexão é sempre válida, pois na observação da prática clínica é muito comum acompanharmos profissionais que não assumem a postura de responsabilizarem-se com o próprio processo e compreenderem que faz parte do desenvolvimento profissional, o constante processo de autoconhecimento. Desde a formação acadêmica, a psicoterapia é sugerida aos alunos como parte primordial daquele que futuramente lidará com a psique humana e é impossível fazer um bom trabalho sem o conhecimento básico da própria. Aliás, me corrijo: será que existe conhecimento “básico” da psique? Cada abordagem da psicologia poderá apresentar uma resposta, mas dentro da psicologia analítica – uma psicologia profunda – considero difícil. Compreendendo a psique na visão junguiana, onde ela é dinâmica e constituída pela dimensão consciente (eu/ego) e por uma ilimitada dimensão inconsciente, é claro que somos regidos por uma força que, de “básica”, não tem nada. Na prática profissional, nossa psique está atuando - assim como atua em todas as relações que nos propomos - no entanto, a diferença é que na relação profissional assumimos a responsabilidade de acompanharmos o outro em sua jornada de autoconhecimento e temos como dever, cuidarmos da nossa própria jornada, que não é finita e não cruza uma linha de chegada: ela é um contínuo desenvolver da alma. “Mas se o terapeuta não estiver disposto a questionar suas próprias convicções, no interesse do paciente, é lícito pôr em dúvida a firmeza de sua atitude básica.” (Jung, OC. 16/1 § 184) Jung nos traz a reflexão ética de assumirmos uma caminhada conjunta com quem nos procura, com a consciência de que isso é possível desde que estejamos firmes dentro de nosso território e tenhamos os pés firmes em nossos próprios processos individuais. É sabido que o tripé da boa atuação dentro da psicologia está nas experiências e conhecimentos adquiridos em análise, supervisão e conteúdo teórico. No entanto, não é incomum cruzarmos com profissionais que abandonam esse pressuposto e fazem da prática clínica um lugar de soberania intelectual, sem a humildade para o constante conhecimento da alma. É claro que a racionalidade é essencial para o bom andamento da análise, pois é através do ego que as reflexões ganham concretude, porém, ele é larápio quando governa com autoridade. Profissionais da psicologia, psicoterapeutas e analistas que escolhem a abordagem profunda para atuação, devem considerar o conhecimento compartilhado por Jung e sua insistência em relevar a importância do cuidado com a própria alma, sem a arrogância de que isso se constrói sozinho. O método dialético proposto nos atendimentos, também é essencial para nossos próprios processos, para que não haja enrijecimento de ideias e princípios diante de cada pessoa que se apresenta confiando em nós e nos considerando instrumentos de ajuda de elaboração psíquica; cada pessoa que, na visão da psicologia analítica, é respeitada por sua individualidade e quanto mais se aproxima de sua verdade, mais se manifesta em sua Totalidade. Que possamos ter a responsabilidade moral e ética de acompanharmos os que buscam ajuda, sem nos considerarmos as grandes deusas ou deuses do Olimpo. Finalizando com a fala de Jung: “Jamais análise alguma seria capaz de suprimir definitivamente todas as inconsciências. O que temos que aprender nunca se esgota, e jamais deveríamos esquecer que cada caso novo levanta novos problemas, e vai dar oportunidade para que se constelem pressupostos inconscientes que até então não tinham aflorado. Poderíamos dizer, sem grande exagero, que mais ou menos metade de cada tratamento em profundidade consiste no autoexame do médico, porque ele só consegue pôr em ordem no paciente aquilo que está resolvido dentro de si mesmo.” (O. C. 16/1 § 239) Até a próxima! Karina Lopes Cabral

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