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Ciranda da Epiritualidade e Religiosidade

A Ciranda Analítica abre um espaço necessário para o diálogo entre a Psicologia Analítica e a Espiritualidade, aprofundando, também, as temáticas sobre Religiosidade

DESMISTIFICANDO A ESPIRITUALIDADE Cada vez mais, o termo ‘espiritualidade’ vem se ampliando e se integrando ao nosso vocabulário. Vai se percebendo a abertura do ser humano para esta dimensão, embora, como tudo o que vai sendo descoberto, venha carregado de informações muitas vezes distorcidas, confusas, idealizadas e/ou dogmatizadas. Hoje, é significativo o aumento de pessoas que buscam um contato com a espiritualidade, em vivências diversas, como as práticas meditativas e as terapias integrativas. Em geral, estamos nos abrindo para a realidade espiritual, mas importante compreender que esta realidade não é limitada ao fenômeno dos espíritos e à religião; falar de espiritualidade não representa se basear em crenças reencarnacionistas para tentar adivinhar quem se foi na vida passada, ou se render às pessoas que fazem dos oráculos instrumentos adivinhatórios do futuro. Não! Compreendo a espiritualidade como uma manifestação do arranjo psíquico que nos leva para o profundo em nós. Quando nossa energia psíquica está direcionada para o encontro com este Sagrado - que nos pertence e nos é natural - criamos condições de despertamos reflexões íntimas sobre a importância de encontrarmos nosso propósito, nos aproximarmos do que é essência própria e contorno para o que, de fato, nos traz sentido à esta vida, independentemente das expectativas internas e/ou externas. Diferentemente dos dogmas religiosos, a relação com a espiritualidade promove a liberdade e o encontro de integralidade do Ser com sua mais profunda e legítima intimidade. Um encontro que vai além da razão e que vamos integrando em nossa jornada de individuação, conforme reconhecemos nossos conteúdos inconscientes e os integramos à consciência e através dessa união entramos em contato com a função transcendente da nossa psique. Como escreveu Jung: “A função transcendente não se desenvolve sem meta, mas conduz à revelação do essencial no homem. No início não passa de um processo natural. Há casos em que ela se desenvolve sem que tomemos consciência, sem a nossa contribuição, e pode até impor-se à força, contrariando a resistência do indivíduo. O sentido e a meta do processo são a realização da personalidade originária, presente no germe embrionário, em todos os seus aspectos. É o estabelecimento e o desabrochar da totalidade originária, potencial. Os símbolos utilizados pelo inconsciente para exprimi-la são os mesmos que a humanidade sempre empregou para exprimir a totalidade, a integridade e a perfeição; em geral, esses símbolos são formas quaternárias e circulares. Chamei a esse processo de processo de individuação.” (OC., vol. 7/1, §186) Naturalizar nossa relação com a espiritualidade como uma manifestação do nosso Self (Si Mesmo) é proporcionar um caminho mais legítimo de saúde física, mental, emocional e espiritual - diante de uma realidade que apenas valida desempenho e resultado, com foco e valor na racionalidade, desprezando que, enquanto espíritos, somos uma Totalidade. Até a próxima! Karina Lopes Cabral

SOBRE DEUS E A PSICOLOGIA ANALÍTICA Esta é uma temática tão complexa e profunda, quanto necessária dentro de toda e qualquer formação analítica, de respeito. Trago esta afirmação, baseada na apresentação e aprofundamento que Jung faz de Deus ao longo de suas obras. O processo de individuação implica nas relações desenvolvidas entre ego e Self (Si Mesmo), compreendendo que estabelecer uma conexão com o nosso self é dar abertura à consciência egóica para o reconhecimento de uma regência que está além da racionalidade e a experimentamos através de imagens, instintos, sonhos, afetos, criatividade, atos falhos etc. Ao tomarmos conhecimento desta realidade em nós, abrimo-nos para a percepção de um diálogo íntimo e inato que sempre estará presente. Uma realidade tão valiosa e que o ego prontamente diminui para pensamentos do tipo: “isso é bobagem, é só coisa da sua cabeça”, invertendo a importância dos valores. Na verdade, o que o ego julga como bobagem é a manifestação de algo maior, inconsciente, que busca de todas as formas se fazer presente na consciência racional, com o intuito de nos ajudar a organizar nossa estrutura como um todo, não só como uma cabeça pensante. Este algo maior, inconsciente, sem atributo material, que busca nos impulsionar para nosso crescimento, desenvolvimento e reconhecimento de nossa individualidade, Jung denominou de Self e o aproximou a imagem de Deus. Importante destacar que, ao aproximar o conceito de Self à imagem de Deus, Jung NÃO tornou essas duas imagens sinônimas! Mas, como não poderia deixar de ser, sofreu ataques de muitos teólogos, que o criticaram como se ele estivesse reduzindo Deus a uma dinâmica psíquica; também recebeu críticas por parte dos racionalistas que o censuraram, julgando-o como místico, religioso e, por isso, não digno à ciência. Que bom que Jung escutou mais o Self que seu ego, não é mesmo? E onde fica a psicologia analítica neste arranjo? Bem, sendo ela uma psicologia profunda, é importante considerar, com naturalidade, a presença do Divino nas dinâmicas que envolvem a psique humana e que, viveremos em nossa prática profissional (e pessoal, obviamente) muitas possibilidades de experiências com a imagem de Deus. Todavia, é de extrema importância ter o conhecimento e compreensão de que tudo o que é dito e vivido sobre Deus, são experiências vividas a partir da nossa psique, logo, as experiências são subjetivas e dependem da relação que cada indivíduo faz com o próprio self. Trabalhar com o conceito de Deus, dentro da psicologia analítica, não é falar sobre o Deus patriarcal, dogmatizado pelas religiões – convertido em alguém mau, masculino, punitivo e controlador; muito pelo contrário! A psicologia profunda tem toda potência para colaborar na desconstrução dessa imagem agressiva e temerosa de Deus e ressignificá-la para Sua presença criativa, construtiva e libertadora. Relacionar-se com as imagens de Deus, neste arranjo, é deixar o caminho livre e seguro para relação entre ego e Self, tão necessário para que o indivíduo possa trilhar seu caminho de individualidade! Até a próxima! Karina Lopes Cabral

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